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USP cancela concurso de enfermagem com 7 mil inscritos; sobrinhas de funcionária ficaram em 1º e 2º lugar

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A Universidade de São Paulo (USP) anulou o resultado de um concorrido concurso público para técnicos de enfermagem do Hospital Universitário (edital nº 47/2022), após suspeita de favorecimento a duas candidatas. Uma nova prova será aplicada, em data ainda não divulgada.

As irmãs Jessica e Bruna Pimenta, que passaram em 1º e 2º lugar no processo seletivo, são sobrinhas de Sueli Barros, funcionária de um departamento do H.U. que participou da elaboração da prova.

Jessica e Sueli negam as acusações e afirmam que estão sofrendo assédio e ameaças pelas redes sociais. Bruna não respondeu às mensagens até a última atualização desta reportagem.

Eram quase 7 mil candidatos disputando 22 vagas. De todos eles, só as duas jovens acertaram as 40 questões de múltipla escolha e tiraram a nota máxima.

Segundo a Comissão de Apuração implementada após denúncias de outros participantes, apesar de não haver evidências concretas de vazamento do exame, foram constatados:

problemas de segurança no processo de conferência do gabarito,
potencial risco de vazamento das respostas
e "conflito de interesses decorrente da participação no processo de conferência do gabarito de um funcionário aparentado com dois candidatos do concurso".

Sueli afirmou que já prestou depoimento. “O que tenho para falar é que não participei deste processo [seletivo], gostaria que as pessoas que levantaram este fato apresentassem provas”, disse. “Tenho 34 anos de Hospital Universitário, sempre mantive a ética. Quem está falando isso [do favorecimento], nem sei quem é, mas deve estar frustrado por não ter a mesma competência.”

“Tem que ter provas, e não existem provas contra mim e minha irmã”, escreveu Jessica, em mensagem enviada à reportagem.

Vaga com salário acima da média

O alto número de candidatos inscritos no concurso justifica-se pelas condições das vagas: regime CLT, de 36 horas semanais, com salário mensal de R$ 4.923,45.

“Havia também benefícios bons (vale-alimentação em torno R$ 1 mil e vale-refeição de R$ 45 reais por dia). É tudo bem acima do que a gente tem no mercado. Em geral, para técnico de enfermagem, pagam no máximo R$ 4 mil”, conta uma das participantes aprovadas no concurso.

Início da suspeita

Quando participantes viram a lista de aprovados publicada no Diário Oficial da União, em 25 de junho, um dado chamou a atenção deles: as duas primeiras colocadas tinham o mesmo sobrenome (Pimenta).

Por meio de postagens do Facebook, foi fácil descobrir que as duas, além de serem irmãs, são também sobrinhas de Sueli Barros, secretária executiva da Educação Continuada do Hospital Universitário da USP. Este departamento colabora com a formulação das provas de concursos públicos, aplicadas pela Fuvest.

“A prova não teve diferentes versões. Era a mesma ordem das perguntas para todo mundo. Se as duas tiveram acesso antes, era bem fácil de decorar as respostas ou de levar o gabarito no bolso”, diz uma das técnicas de enfermagem selecionadas, que pediu para não ser identificada.

Não havia evidências concretas de algum favorecimento às alunas. Mas, a partir do que foi descoberto sobre Jessica e Bruna, candidatos procuraram a ouvidoria da USP e pediram esclarecimentos.

Desde então, o caso passou a ser investigado internamente.

Nova data para a prova

A Superintendência do Hospital Universitário acatará o que foi sugerido pela Comissão de Apuração:

anulará os resultados da prova de 12 de junho;
implementará uma nova banca elaboradora das questões, com membros externos ao Hospital, responsáveis por se certificar de que não há conflitos de interesses entre os participantes;
marcará uma nova data para a prova, que será feita apenas pelos cerca de 7 mil candidatos que já estavam inscritos no concurso.

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