Líderes do Centrão alinhados com Jair Bolsonaro (PL) se irritaram com a afirmação de Lula (PT) no final de semana sobre “dar um jeito” no grupo e no orçamento secreto – método usado pelo governo para conquistar apoio político no Congresso.
“Se a gente ganhar, a gente vai ter que dar um jeito no Centrão, vai ter que mexer no orçamento secreto, vai ter que cumprir o piso da enfermagem, melhorar o piso dos professores”, afirmou o ex-presidente durante evento em Santa Catarina.
Esses caciques avaliam que a fala de Lula foi um recado mais contundente de que, se eleito, o presidente prefere atuar para esvaziar os principais líderes do Centrão, uma indicação que o petista já havia feito na entrevista ao Jornal Nacional.
No entanto, nos bastidores, diante da perspectiva de que Lula poderá voltar ao poder, parlamentares do Centrão passaram a sinalizar ao comitê de Lula que estariam dispostos a conversar no dia seguinte da eleição.
Apesar das sinalizações, Lula, publicamente, reforçou críticas aos Centrão e ao orçamento secreto, como forma de enfraquecer o grupo.
O que mais irrita o Centrão no discurso do orçamento secreto é que, reservadamente, esses parlamentares afirmam que Lula terá dificuldades em revisar o mecanismo já que deputados e senadores de oposição também se beneficiam das emendas. Além disso, veem desgaste para os seus eleitorados, em suas bases, a maioria no Nordeste.
Por isso, caciques do centrão avaliam começar a questionar Lula publicamente a respeito de seus projetos em um eventual novo governo. Por exemplo, como pretende aumentar programa de transferência de renda além do Auxílio Brasil, entre outros temas.
A preferência do QG de Lula é formar uma espécie de “Centrão do B”, com parlamentares de esquerda e do União Brasil, MDB e PSD como sua base aliada no Congresso. Caso consiga formar esse bloco de apoio, o PT espera não ficar “refém” de caciques do Centrão.
O Centrão sabe disso. Por isso, trabalha para engordar sua base e se tornar indispensável – e maioria – no Congresso.
Os líderes do Centrão acreditam, ainda, que sob o comando de Lula, o Palácio do Planalto atue para estabelecer um rodízio no comando da Câmara e do Senado, que vigorou durante parte dos governos petistas. Entre 2007 e 2016, por exemplo, PT e MDB se alternaram no comando da Câmara dos Deputados.
No comitê de Lula, coordenadores do PT admitem que a ideia com rodízio das maiores bancadas – o que dependerá do resultado da eleição – está em discussão.