Imagens do Hospital de Cidade Tiradentes, na Zona Leste da capital paulista, divulgadas mostram que o setor de emergência está à beira do colapso.
O local está tão lotado com pacientes que não estão com Covid-19, que médicos e enfermeiros mal têm espaço para se aproximar das macas e cuidar dos doentes. Eles estão aglomerados nos corredores “como legos”, de acordo com a neta de um paciente que deu entrevista ao G1.
Atualmente, para tratamento de Covid-19 o hospital está com 67% de ocupação para os leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e 69% na enfermaria. Além disso, há 206 leitos para pacientes .
Feitas com celular na terça, quarta e quinta, os vídeos mostram pacientes amontoados em macas na emergência. Os mais agitados são amarrados. Nos corredores, por onde circulam as pessoas, a situação não é diferente, pacientes estão enfileirados em macas.
Fernanda Souza, que é enfermeira em outro hospital, está com o avô internado na unidade. Ela presenciou a lotação e os pacientes amarrados.
“Por conta da lotação, tem bastante profissional, só que eles não dão conta porque vai chegando Samu, chega paciente para intubar, fica tudo misturado ali. Aí chega aquela portinha, ali eles vão enfiando o paciente, vai encaixando um em cima do outro como se fosse um lego. Então as pessoas estão sobrecarregadas, elas realmente tentam fazer o melhor que dá, só que o melhor que dá é muito ruim porque eles não dão conta mesmo da demanda”, afirma.
“Muitos ficam amarrados porque tem muito de idade, confuso, tem paciente psiquiátrico também misturado, que fica gritando. Tinha uma moça que estava 48 horas lá gritando o dia inteiro quase.”
O pedreiro Antônio Vitorino Alencar ficou internado no hospital por quinze dias no início de junho, por causa de uma fratura. Ele conta que passou uma semana na ala de emergência, com macas bem próximas umas das outras, como mostram as imagens. Ele diz que apesar do esforço dos funcionários, não tem como atender bem nessas condições.
“É toda hora chegando gente, puxa cama, fica tudo emendada. E se tem de chamar enfermeiro tem que gritar”, conta ele.
Nesta sexta-feira (25), o seu Antônio foi com a filha para uma consulta de retorno depois da cirurgia. Ela diz que o hospital ficou pequeno para tantos pacientes. “Mal os funcionários podem se mexer. Na verdade o espaço que é pequeno”, afirma ela.
O hospital foi inaugurado em 2007 para atender uma região que, segundo o último censo, tem mais de 200 mil moradores.
A cuidadora Tita de Souza, mora na região há 30 anos. Ela diz que faz tempo que Cidade Tiradentes precisa receber mais opções de atendimento na saúde. A pandemia só fez aumentar uma demanda que já era enorme.
“É muita gente e a população está muito grande e a gente quer pelo menos mais um outro hospital e mais postos né”, afirma.
O secretário Municipal da Saúde, Edson Aparecido, reconheceu o problema no hospital, que é administrado pela Organização Social Santa Marcelina. Ele disse que o aumento na procura foi provocado por pessoas com outras doenças que voltaram a buscar atendimento na rede pública. E prometeu melhorar a situação.
“Aquele é um hospital referência em toda aquela região e nós, inclusive, para melhorar aquele atendimento, nós estamos abrindo uma Unidade Pronto Atendimento (UPA) na região de Cidade Tiradentes nos próximos 45, 50 dias. Nós estamos realmente tendo essa pressão das pessoas não-Covid que voltam a ser tratadas no conjunto da rede para que a gente possa atendê-las”, afirmou.