O pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) criticou uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o aborto, durante uma sabatina com pré-candidatos á Presidência realizada em Harvard, nos Estados Unidos, no domingo (10). Ciro Gomes chamou de “estapafúrdia” a fala de Lula de que mulheres pobres morrem ao tentar abortar enquanto “madame pode fazer um aborto em Paris”.
Já João Doria (PSDB) falou em seguir o ‘caminho do consenso’ com o MBD, e Simone Tebet (MDB-MS) defendeu união na terceira via durante o Brazil Conference, encontro organizado por estudantes da instituição. Já Eduardo Leite (PSDB) disse, brincando, que está “na pista para negócio”.
O ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil) foi o primeiro a ser sabatinado no evento, no sábado (9), que debate o cenário político e social do Brasil e as expectativas para as eleições de outubro. No domingo, foi a vez de Tebet, Doria, Leite e Ciro
Moro
Moro se filiou ao União Brasil no dia 31 de março, depois de deixar o Podemos. No antigo partido, ele era pré-candidato declarado. No atual, ainda não definiu qual cargo vai disputar em outubro.
O ex-ministro defendeu uma candidatura de terceira via que ofereça ao eleitor uma opção que não seja a “polarização” entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Este é um momento muito delicado na vida do Brasil. Estamos vendo essa polarização que tem acirrado os ânimos. E, com todo respeito a esses candidatos, são candidatos muito ruins”, afirmou o ex-ministro.
Moro também se disse orgulhoso de sua atuação como juiz responsável pela Operação Lava Jato. Ele deixou o cargo para assumir a pasta da Justiça no governo Bolsonaro, do qual saiu em 2020, por desentendimentos com o presidente.
Para o ex-ministro e ex-magistrado, um dos motivos de o Brasil não ter crescimento econômico relevante nas últimas décadas pode ser a corrupção.
“Talvez por isso estejamos há 30 anos presos na armadilha do baixo crescimento. A gente vai fazendo concessão ética a cada momento e, em vez de obter crescimento econômico, a gente está aqui estagnado. As pessoas olham para o Brasil e pensam: ‘Cadê as instituições funcionando?’ Tem uma correlação muito clara, vocês podem procurar nos livros de ciência política […] Uma relação clara entre qualidade das instituições e crescimento econômico. O crescimento precisa de previsibilidade, segurança jurídica e respeito às regras do jogo”, argumentou Moro.
Ciro
No dia seguinte, Ciro Gomes falou ao público local e chamou de “declaração estapafúrdia” a fala de Lula sobre aborto.
“Que é que o Lula tinha de dar uma declaração estapafúrdia como a que ele declarou agora ‘que todo mundo tem direito a fazer o aborto’. Que coisa mais simplória para um assunto tão grave e tão complexo. E qual o poder que o Lula tem sendo presidente da República por 14 anos, ou mandando na Presidência do Brasil, e que não resolveu essa questão? Porque ela é insolúvel. Ela é insolúvel”, disse Ciro.
Diante da repercussão da sua fala, na semana passada, Lula explicou que é contra o aborto e que a questão tem que ser discutida como tema de saúde pública.
“Essa pergunta já chegou pra mim umas mil vezes: eu sou contra o aborto, mas é preciso transformar numa política pública. Mesmo eu sendo contra, ele existe, ele se dá com uma pessoa de alto poder aquisitivo, ela vai ao exterior e se trata. E o pobre, como faz?”, argumentou o ex-presidente.
Para Ciro, tratar de questões como aborto e pautas identitárias na campanha, enquanto grande parte da população busca igrejas como “socorro” e “autoajuda”, é entregar o Brasil para a “direita tacanha”.
“Quando o guerreiro vai para a guerra, se ele puder antecipar, ele escolhe o campo da luta, para ele ter a vantagem. Nós estamos caindo como um patinho. Por quê? Porque as questões identitárias são nobres. É fato que o nosso país é o que mais mata população LGBTQIA+. Mas qual o poder que [tem] o presidente da República que vai disputar uma eleição agora, com o povão da favela que está indo buscar na igreja autoajuda, lenitivo, socorro para desespero em que se encontra? Isso é ser de esquerda? Não é ser de esquerda. Isso é ser déspota esclarecido e descomprometido com a vida real do nosso povo é entregar para a direita mais tacanha fazer o que ela está fazendo com o nosso país”, completou.
Uma das perguntas feitas ao pré-candidato foi sobre preservação do meio ambiente e o aquecimento global. Ciro disse que é preciso levar sustentabilidade à Amazônia. Segundo ele, há menos de três décadas os agricultores eram incentivados pelos governos a desmatar a floresta, como uma forma de colonizar a região.
Na visão do pré-candidato, o poder público deve apresentar a essas pessoas uma nova forma de explorar a floresta.
“Como é que a gente resolve isso? Na minha opinião, se reconciliando com o povo local, com o brasileiro local. Como? [Fazendo] zoneamento econômico ecológico. Isso que é uma ferramenta de desenvolvimento sustentável”, completou.
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