A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) informou que número de brasileiros endividados bateu recorde histórico no levantamento feito pela entidade desde 2010. No mês de julho, eram 71,4% do total dos consumidores que carregavam alguma dívida, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
A sondagem é realizada mensalmente. No mês passado, a alta constatada foi de 1,7 ponto percentual em relação a junho. Comparado a um ano atrás, o índice teve aumento de 4 pontos percentuais.
Segundo a entidade, os números elevados são reflexo direto de uma junção de fatores ruins da economia. A equação inclui o momento de inflação elevada, a redução dos estímulos sociais criados durante a pandemia do coronavírus e os níveis ainda altos de desemprego. São itens que diminuem o poder de compra e deterioram os orçamentos domésticos.
“A renda dos consumidores está afetada pelas fragilidades do mercado de trabalho formal e informal, com o Auxílio Emergencial deste ano sendo pago com um valor menor”, afirma em nota José Roberto Tadros, presidente da CNC.
A CNC divide os pesquisados em duas faixas de renda, entre menor e maior que 10 salários mínimos. Entre as famílias que recebem menos, o percentual de endivididamento passou de 70,7%, em junho, para 72,6%, em julho. Trata-se de recorde da série histórica. Em julho de 2020, eram 69%.
Para as famílias de maior renda, a proporção sobe de 65,5% para 66,3% em julho, mais um recorde. No ano passado, eram 59,1%.
Segundo a CNC, a parcela média da renda comprometida com dívidas saltou para 30,5% da renda mensal, a maior proporção desde novembro de 2017. Nas famílias com menor, essa parcela alcançou 31% da renda, a maior proporção desde maio de 2016. Nas mais ricas, o percentual chegou a 28%, fatia mais elevada desde agosto de 2020.
Cartão de crédito
Com a deterioração da renda, o uso do cartão de crédito subiu forte, chegando a 82,7% do total de famílias com dívidas – mais uma máxima histórica da pesquisa.
“A modalidade é a mais difundida pelas facilidades do meio de pagamento, porém a que oferece o maior custo ao usuário, quando se torna crédito rotativo”, diz a CNC.
“O tempo de atraso no pagamento das dívidas também vem crescendo, reflexos das dificuldades enfrentadas pelas famílias na faixa de menor renda para quitarem seus compromissos financeiros em dia”, segue o texto.
Carnês e financiamento de carros compõem o pódio de modalidades mais comprometedoras do orçamento familiar, com 18% e 12,6% das respostas, respectivamente.
Os números preocupam porque o aumento do endividamento pode levar a um potencial de crescimento da inadimplência. Segundo a CNC, o tempo médio de atraso na quitação das dívidas aumentou pela segunda vez, atingindo 61,9 dias em julho, maior prazo desde fevereiro.
“Nos dois últimos meses, diminuiu o percentual de famílias com atrasos até 30 dias, porém aumentaram os atrasos entre 30 e 90 dias e os acima de 90 dias, indicando que as famílias inadimplentes estão precisando de mais prazo para quitarem seus compromissos em aberto”, diz a CNC.