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À espera de Neymar, Tite testa novo modelo e ganha opções

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Nos dois passes que deu para gols do Brasil, Marquinhos foi além da capacidade de vencer a marcação adversária para encontrar um companheiro em ótima posição: sua posição corporal e seu olhar induziram os rivais a pensarem que faria um passe para o lado direito do campo, mas terminou por achar Raphinha infiltrando na área e Coutinho bem pelo centro. Apenas mais uma faceta de um dos maiores zagueiros do mundo.

Mas a vitória sobre o Paraguai, ressalvado o nível competitivo do rival, teve outras marcas além do desempenho do defensor. O Brasil se beneficiou de um novo desenho na hora de atacar, da presença de dois meias criativos e de dois pontas dribladores e cada vez mais confiantes. Ocorre que, se a presença de Marquinhos no time titular de Tite é uma certeza, todas as outras virtudes exibidas contra os paraguaios são, por ora, resultados de uma formação que, sem Neymar, um óbvio titular, ofereceu à comissão técnica uma nova opção. Resta saber se o modelo desta terça-feira será entendido por Tite como um novo padrão ou apenas como uma alternativa para jogos de exigência mais baixa, contra adversários mais defensivos. Mesmo com um futebol pobre, o Paraguai expôs o lado de Daniel Alves nas poucas escapadas que tentou no primeiro tempo.

Fabinho, substituto de Casemiro, teve à sua frente Paquetá e Coutinho, e não a companhia de Fred. Além deles, havia três atacantes: Raphinha na direita, Vinícius Júnior na esquerda e Matheus Cunha como centroavante. A seleção fluiu de forma notável num jogo, diga-se, diante de um Paraguai pouco competitivo. A melhor notícia é perceber que, no ano da Copa, o Brasil vê uma quantidade importante de jogadores subindo de produção, o que permitirá a Tite escolher: Vinícius Júnior se impõe como protagonista no Real Madrid, Raphinha ganha corpo na seleção, Matheus Cunha ocupa a posição do centro do ataque, Paquetá mostra talento e versatilidade, Coutinho exibiu no Mineirão passos importantes em sua busca pela melhor forma, sem falar nos substitutos Bruno Guimarães, Antony, Rodrygo. E, claro, Neymar não estava. Onde ele entra?

Não é tão simples responder. Contra o Paraguai, Tite fez a seleção atacar a partir de uma saída de bola com três homens: os zagueiros Marquinhos e Thiago Silva acompanhados por Alex Telles, dono de ótima exibição. À frente deles, Fabinho tinha a companhia de Daniel Alves, que deixava a lateral para se tornar um segundo volante organizador de jogadas. E aí vinham os cinco homens mais ofensivos, com Paquetá e Coutinho por trás do trio de ataque.

A comparação não é simples, porque nos últimos jogos em que teve Neymar a seleção não usava dois pontas abertos, tampouco havia Coutinho – Fred atuava mais perto de Casemiro. Neymar era um segundo atacante, que recuava para participar da armação e dividi-la com Paquetá. Ainda assim, apesar das sutis diferenças de modelo ofensivo, foi Coutinho quem fez, contra o Paraguai, o papel mais próximo do que vinha sendo executado pelo astro do PSG. Em tese, seria hoje uma substituição mais natural. Acontece que, por mais que tenha se tornado um jogador de articulação e último passe, Neymar é bem diferente de Coutinho, ambos oferecem virtudes diferentes: talentoso ao extremo, extraclasse, Neymar tende a buscar sempre a bola, reter e conduzir antes do passe.

Por ora, e talvez estes seja o ponto mais celebrado por Tite, ele ganha opções que vão se afirmando em sua lista de 23, ganha o direito de fazer escolhas. Pode ser açodado pensar num onze titular, algo que pode ser profundamente influenciado por oscilações de forma dos jogadores até novembro. Mas é tentador.

Primeiro, restaria entender se o treinador se irá optar por um time mais vigoroso em choques contra adversários de primeiro escalão. Neste caso, irá usar Fred ou até Bruno Guimarães junto a Casemiro. Como ainda terá que dar lugar a Neymar, abriria mão de duas peças do time que jogou com o Paraguai: um dos meias, um dos pontas ou até Matheus Cunha, num sistema sem centroavante.

Ainda que decida apenas dar entrada a Neymar, terá que escolhas a fazer: se mantiver a aposta em dois meio-campistas leves e de criatividade, talvez tenha que abrir mão de Raphinha ou Vinícius Júnior; caso contrário, pode ter Paquetá dividindo a armação com Neymar, mantendo o trio de ataque. Ao mesmo tempo, terá sempre um olhar para a temporada da Premier League: se Coutinho seguir enviando sinais de progressos, o treinador da seleção terá motivos para recorrer a ele.

O Brasil funcionou bem no Mineirão, jogou um futebol leve, bonito de ver. Mas se o coletivo precisa de testes mais duros, é interessante ver individualidades em ascensão e uma seleção encontrando formas de encaixá-los. Talvez seja um sinal de que, ao decidir manter um trabalho após perder uma Copa, o Brasil esteja descobrindo o benefício dos processos, do tempo. No fim de março, provavelmente com Neymar, talvez Tite dê novas respostas sobre as hierarquias na disputa por um lugar no Mundial.

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