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Professores denunciam diretores de escolas públicas de SP por assédio moral

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“Sofremos assédio até para ir ao médico. Corremos o risco de receber falta [mesmo levando atestado], e o diretor ameaça descontar um dia no pagamento” afirma Livia, professora da rede estadual paulista. Ela conta que procura atendimento psicológico desde o ano passado, mas enfrenta dificuldades para conseguir autorização para esses encaminhamentos.

Depois do ataque a escola que deixou uma professora morta e quatro feridos, relatos de professores da rede estadual paulista que refletem um cenário de assédio moral cometido por diretores contra os docentes em três escolas. Segundo pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa o primeiro lugar do ranking mundial como o país que mais pratica violência contra educadores.

Para evitar possíveis retaliações, os professores citados nesta reportagem serão identificados com nomes fictícios.

“Sofremos assédio até para ir ao médico. Corremos o risco de receber falta [mesmo levando atestado], e o diretor ameaça descontar um dia no pagamento”, afirma Livia, professora da rede estadual paulista.

Ela conta também que procura atendimento psicológico desde o ano passado, mas enfrenta dificuldades para conseguir autorização para esses encaminhamentos. Suas principais queixas podem ser resumidas ao uso do poder para que o professor não exerça sua autonomia como educador.

Damares, professora temporária, não teve apoio no primeiro mês, um momento de adaptação na escola. Ela conta que um dia chegou atrasada quatro minutos, e a vice-diretora não permitiu sua entrada. Testemunhas relataram que ela sofreu abuso psicológico e tem enfrentado um quadro de paralisia facial desencadeado pelo estresse.

Em nota, a Secretaria da Educação informou que, “os casos mencionados serão apurados pelas Diretorias de Ensino. A Seduc reforça que tanto as Diretorias, quanto a sua ouvidoria estão à disposição dos servidores que desejam formalizar qualquer tipo de insatisfação”.

Perseguições

“Os professores geralmente não são escutados porque a educação é a área mais precarizada entre as pastas da política pública”, diz Pedro, professor há quase 20 anos da rede e que foi afastado das salas de aula no ano passado. Atualmente, está cumprindo trabalho burocrático em uma Diretoria de Ensino.

Seu afastamento, acredita, foi resultado da luta contra o assédio moral executado pela gestão contra alunos e professores e também contra a implementação do Programa Ensino Integral (PEI) na escola. Ele enxerga o PEI como a principal prática de precarização da educação: reduz custos e, ao mesmo tempo, diminuiria também a autonomia das escolas.

Pedro conta que em 2021 e 2022 ocorreram atos de violência em uma escola, que teriam sido executados pela gestão em resposta ao engajamento de professores e alunos.

“O próprio afastamento é um ato de assédio moral. Não tive chance de me defender, o meu ofício foi retirado. Pela primeira vez na minha vida tive que recorrer a ajuda médica. Foi a partir daí que eu senti a violência do sistema”, afirma.

Outro caso foi o do professor Fernando, que tirou do próprio bolso dinheiro para desenvolver um projeto que ganhou projeção, mas, em vez de ser valorizado, passou a ser boicotado. “A direção começou a me perseguir, eu só queria dar aula. Fui oprimido e acuado. Foram me esvaziando.”

Ele conta também que o governo mandou uma verba em 2022 para a escola comprar equipamentos de mídia. “Foram instalados, mas o diretor tirou as caixas de som, os cabos da televisão e desligava a internet. Como vou montar uma televisão sem o cabo HDMI, sem tomada?”

Procurado, o Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo (Udemo) disse que condena qualquer tipo de assédio moral e não comenta sobre denúncias anônimas. A orientação para esses casos, segundo seu presidente, Francisco Antonio Poli, é entrar com representação na própria escola contra a diretora ou o diretor, pedindo esclarecimentos.

Muito além do assédio moral

André Sapanos, membro do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), afirma que os docentes sofrem “as mais diversas formas de violência, entre elas: verbal, física, psicológica, patrimonial [roubo de pertences] e moral”

“Diante dos crescentes casos de violência física, com casos gravíssimos, existe um crescente número de professores que sofrem com ansiedade e outros problemas psicológicos, pois não se sentem seguros em seu ambiente de trabalho e tampouco valorizados para prosseguir com sua carreira.”

Uma pesquisa sobre violência nas escolas, realizada pela Apeoesp por meio do Instituto Locomotiva, demonstrou o agravamento da incidência de casos de violência e o clima de insegurança nas escolas estaduais no pós-pandemia. As principais ocorrências citadas pelos professores nas escolas em que trabalham, em ordem decrescente, são: agressão verbal, bullying, assédio moral, assalto, discriminação e agressão física.

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