Samuel e Tiago são primos e têm o sobrenome Oliveira em comum. Os dois vão representar o Brasil no Mundial de Natação Paralímpica da Madeira, em Portugal, de 12 a 18 de junho. A estreia na competição foi uma virada surpreendente para dois meninos que há sete anos tiveram as vidas marcadas por um episódio trágico.
Em janeiro de 2015, na cidade de Campinas, eles foram atingidos por descarga elétrica de 13 mil volts ao tentar desenroscar uma pipa presa em uma árvore. O choque foi imediato ao encostarem uma barra de ferro na fiação encoberta pela folhagem. Samuel e Tiago, com 9 e 14 anos, respectivamente, sofreram queimaduras graves. Os braços entraram em estado de necrose e, para evitar uma infecção mais grave, precisaram ser amputados na altura dos ombros.
- A gente fica sem chão e sem saber como que vai ser. E fora outras coisas que os médicos falavam, que eles tinham um por cento de chance [de sobreviver]. Que eles poderiam vir a óbito a qualquer momento – recordou Cirlene de Oliveira Ferreira, mãe de Tiago.
Fora de perigo, os dois passaram por mais de 10 procedimentos cirúrgicos. A adaptação a uma nova realidade, justamente no período da adolescência, não foi fácil. Foi nesse contexto que surgiu a natação, uma atividade de reabilitação que virou profissão com passar dos anos.
- Assim que fechou tudo, consegui cicatrizar a perna inteira, eu tive contato com a piscina. Foi uma reabilitação. Eu conseguia atravessar 25 metros e já ficava feliz. Foi indo, foi acontecendo – disse Tiago, hoje com 21 anos.
- Me falaram assim “tem um lugar para você, para nadar, para aprender a nadar”, e eu não sabia nadar antes de perder os braços. Então, foi ali, na reabilitação, onde eu vi que [a natação] era a minha paixão – contou Samuel.
Em janeiro deste ano, Samuel e Tiago passaram por mais uma mudança juntos. Ambos foram contratados para fazer parte da equipe paralímpica do Praia Clube, de Uberlândia. Até então, Tiago continuava na piscina da cidade natal, Campinas. E Samuel, também conhecido como Samuka, treinava no CT Paralímpico, em São Paulo.
- É uma grata surpresa ver dois atletas que estão treinando com a gente há pouco tempo já estarem abaixando as marcas, já estarem pegando vaga para o Mundial. Isso mostra que vai dar muito certo essa troca entre a gente e, principalmente, vocês podem esperar muito deles em Paris 2024. É o nosso grande objetivo – disse Alexandre Vieira, treinador do Praia Clube.
Em abril, Samuel já deu provas de que pode trazer uma medalha para o Brasil em breve. Aos 16 anos, ele já superou a marca de um ídolo e maior medalhista do país. No Circuito Brasileiro, Samuel finalizou os 50m borboleta da classe S5 (para pessoas com limitações físico-motoras) em 33s57 e bateu o tempo de 33s98 estabelecido por Daniel Dias em 2014.
Samuel e Tiago, ao lado dos demais 27 nadadores paralímpicos e comissão técnica, embarcaram para a Ilha da Madeira na última quarta-feira para dar início ao período de aclimatação. A competição começa no dia 12 de junho e deve reunir mais de 600 atletas de 70 países.