Uma das disputas mais marcantes da Fórmula 1 na virada dos anos 1980 para os 1990 aconteceu há exatos 30 anos: no dia 11 de março de 1990, Ayrton Senna e Jean Alesi protagonizaram um pega daqueles inesquecíveis na disputa pela liderança do Grande Prêmio dos Estados Unidos, nas ruas de Phoenix. Foi suado, o francês chegou a devolver uma ultrapassagem, mas no fim o brasileiro prevaleceu.
Conforme vimos ontem no F1 Memória, os treinos de classificação foram bagunçados por causa da chuva de sábado e pela competitividade dos pneus Pirelli nessas condições. Em sua estreia pela McLaren, Gerhard Berger conquistou a pole position, seguido por três carros com pneus Pirelli: Pierluigi Martini (Minardi), Andrea de Cesaris (Dallara) e Jean Alesi (Tyrrell). Quatro meses e meio depois da batalha de Suzuka, Ayrton Senna foi o quinto com a outra McLaren, e Alain Prost, o sétimo, na estreia pela Ferrari. Ainda assim, os dois eram favoritos à disputa pela vitória.
Berger pulou melhor mas um encapetado Alesi ignorou qualquer sentido de auto-preservação e mergulhou por dentro na freada para a primeira curva. O jovem francês liderava uma corrida de F1 pela primeira vez. Senna largou bem e pulou para quarto, com De Cesaris em terceiro – três voltas depois, o brasileiro passaria o italiano.
Com um ritmo alucinante, Alesi começou a abrir de Berger, que passou a receber a pressão de Senna. Desconfortável no cockpit da McLaren, concebido para pilotos mais baixos, o austríaco se atrapalhou com o assédio do companheiro e ainda trançou as pernas dentro do cockpit, o que lhe fez acelerar e frear ao mesmo tempo numa curva: Resultado: a McLaren foi direto na proteção de pneus. Berger depois declararia que jamais havia sofrido uma pressão tão violenta durante uma corrida.
Com Berger e também Alain Prost fora (motor), Senna partiu para cima de Alesi. Aos poucos, a diferença foi caindo, até que na volta 34, o brasileiro deu o bote. Ultrapassagem de manual, por dentro, no fim da reta dos boxes. Ayrton achou que a liderança estava tranquila, mas Alesi surpreendeu o mundo ao mergulhar na curva 2. Ayrton não esperava. Ninguém esperava. Alesi líder de novo.
Como o próprio Senna confessaria depois: o troco de Alesi lhe despertou. Os meses seguintes à frustração de Suzuka, as brigas intermináveis com o presidente da FIA, Jean-Marie Balestre, e a ameaça de cassação da superlicença abalaram o emocional de Ayrton. Nada melhor do que uma disputa na pista para acordá-lo. Na volta seguinte, Senna tentou passar Alesi de novo e, após muita resistência, finalmente tomou a ponta.