Se existe um piloto pressionado no paddock da Fórmula 1, esse alguém é Sebastian Vettel. Em seu último ano de contrato com a Ferrari, o tetracampeão vem de duas temporadas muito complicadas pela equipe italiana, recheadas de erros e rodadas em momentos cruciais. Para piorar, no ano passado, o monegasco Charles Leclerc estreou no time vermelho com um desempenho espetacular. Para completar, o contrato do jovem de 22 anos já foi renovado até 2024. Ou seja: Vettel precisa mostrar serviço nesta temporada para continuar em uma posição de destaque na F1. Seja na Ferrari ou em outra equipe de ponta.
A má fase de Vettel começou em casa: no GP da Alemanha de 2018. Na ocasião, o alemão liderava a corrida com folga, quando começou a chover forte. Com pneus para pista seca, ele errou sozinho no trecho do estádio e acabou na caixa de brita. A partir daí, tudo foi ladeira abaixo. Erros nos GPs da Itália, do Japão e dos Estados Unidos sepultaram suas chances de títilo naquele ano. Em 2019, a história se repetiu. Uma rodada no GP do Barein acabou com suas chances de vitoria na corrida. Depois, uma escapada no Canadá acabou gerando uma (injusta) punição e a perda do triunfo para Lewis Hamilton. Errou de novo na Itália, casa da Ferrari, e em Interlagos, quando bateu com o companheiro Leclerc.
Desde o erro de Hockenheim há dois anos, foram apenas duas vitórias em 29 GPs disputados: Bélgica-2018 e Singapura-2019. Muito pouco para quem é tetracampeão da F1. A título de comparação, no mesmo período, o hexacampeão Lewis Hamilton venceu 18 corridas. Nove vezes mais. E o pior de tudo, no caso de Vettel, é não ver luz no fim do túnel. Neste período, ele não deu motivos para os tifosi da Ferrari acreditarem em uma mudança de desempenho. Pelo contrário: o alemão está longe de brilhar. Parece apático, conformado com uma situação que deveria ser muito incômoda para ele. Vettel hoje é apenas uma sombra daquele piloto que foi tetra pela RBR com um desempenho dominante.
Tudo bem que os dois últimos modelos da Ferrari não casavam tão bem com seu estilo de pilotagem: Vettel detesta carros traseiros. Era justamente o que acontecia na pista. Temos de adicionar à equação da má fase do alemão os inúmeros erros de estratégia da Ferrari, primeiro chefiada por Maurizio Arrivabene e agora por Mattia Binotto, que passa por um momento complicado em termos de decisões durante as corridas. Fato é que, apesar destes percalços, o desempenho de Vettel nas pistas tem estado longe do satisfatório. E, a meu ver, melhorar depende muito mais dele recuperar o lado psicológico do que um desempenho melhor do carro na pista. O problema está na cabeça dele.
A partir deste fim de semana, Vettel terá aquela que, talvez, seja sua última chance de se recuperar na Fórmula 1. Mesmo assim, a julgar pelo que vimos na pré-temporada, a Ferrari não terá condições, ao menos neste início de ano, de ameaçar Mercedes e RBR, que pintam como as duas principais forças neste início de campeonato. O novo SF1000 apresentou vários problemas nos testes de Barcelona e já não tem aquela velocidade em reta que o SF90 de 2019 demonstrava – coincidência ou não, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciou um acordo secreto com a Ferrari por causa do motor do ano passado que irritou sete das dez equipes da Fórmula 1.
Ainda assim, mesmo com um carro longe do ideal, Vettel precisa mostrar serviço nesta temporada. Pelo menos superar o companheiro Leclerc na disputa interna da Ferrari. Neste momento da carreira, Vettel está em um abaixo de Lewis Hamilton, o grande piloto dos últimos anos na Fórmula 1.